Por Denise Alves
em 10/02/2015
A
utilização de parábolas era um dos métodos de ensino preferidos de Jesus. Ele
falou sobre a extensão e incompreensão do perdão do Pai na parábola do Filho
Pródigo. Mostra-nos a hipocrisia da religião quando relata a parábola do Bom
Samaritano, e quem não conhece a
história da ovelha perdida, importantíssima aos olhos do pastor, ao ponto deste
deixar as outras 99 ovelhas em um lugar seguro e sair a procura da desgarrada
até encontrá-la.
A
contação de histórias é um excelente modo de ensinar pois além de tocar o
emocional dos ouvintes, os insere numa observação distanciada do contexto
abordado, propiciando um novo ângulo de análise. Foi o que ocorreu com o Rei
Davi quando envolvido pela história narrada pelo Profeta Natã sobre um homem
avarento que não satisfeito com todo rebanho de ovelhas que possuía, desejou e
obteve violentamente a única ovelha de um vizinho pobre.
O
conhecimento de tal história levou o Rei a um acesso de fúria, tomando por
imperdoável o comportamento de quem assim procede, condenando-o imediatamente à
morte. Com tal consciência do erro é que o profeta pôde concluir a história:
“Então disse Natã a Davi: Esse homem és tu!” (2 Sm 12.7).
Hoje,
através de filmes, peças teatrais e livros de literatura histórias nos são
contadas. De produções tecno-cientificas-fictícias, à
comédias-beisterol-americano (ou brasileiro), passando por produções sobre
dramas pessoais e reconstruções históricas somos apresentados a outras
'personas'.
Personagens
estes que nos incomodam, nos atraem, nos repelem, nos alegram, muita vezes
chegam a nos consolar, nos abraçar ou nos assustar. A cada ato, a cada cena, a
cada página somos levados para dentro de um outro mundo, na verdade de outros
mundos, pois a atuação de cada ator, o desenrolar de cada roteiro, e a visão de
cada escritor, nos proporcionam vivências inalcançáveis de outra maneira.
Foi
isso que me ocorreu ao assistir O Jogo da Imitação. O filme conta a
história de Alan Turing. Matemático, responsável pela decodificação da Enigma –
máquina de comunicação cifrada utilizada pela Alemanha Nazista no auge da 2ª
Guerra Mundial – cuja história ficou escondida por mais de 50 anos, tanto por
razões militares, quanto por, razões pessoais.
Fiquei
indignada com o tratamento despendido a uma figura tão importante no desenrolar
da história mundial, indignada com o modo como a rainha da Inglaterra tratou o
assunto, enraivecida contra a posição tomadas pelos amigos e colegas de
trabalho. Me perguntando: Como eles puderam fazer isso????
Mas
em meio a todo turbilhão de raiva, indignação e vergonha, pude vê o dedo de
Natã apontado para mim: - Esse homem é você!
“Portanto
és inescusável quando julgas o homem, quem quer que sejas, porque te condenas a
ti mesmo, naquilo em que julgas a outro. Pois tu que julgas fazes o mesmo” (Rm
2.1). A parábola funcionou!
Deus
ainda fala, e fala como quer. Ele sempre encontra uma forma de vir ao nosso
encontro e interceptar nossa caminhada rumo ao precipício. Nem que pra isso
precise sutilmente nos levar até um cinema, nos contar uma história
aparentemente distante de nós, e quando nos envolvemos a ponto de nos
indignarmos com os personagens, mostrar que nem sempre estamos agindo como os
mocinhos, talvez, na realidade, estejamos agindo exatamente como os bandidos e
ele deseja mudar o final da nossa história.
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