domingo, 30 de setembro de 2018

Excluídos



Por Denise Alves
28/09/2018


O capitalismo é por essência um sistema binário: Tem/Não Tem; Acessível/ Não Acessível. Critérios aplicados majoritariamente às relações de consumo, onde as pessoas são julgadas pela sua capacidade obter bens culturalmente identificados como desejáveis.
Mas a exclusão não é novidade na história e os bens desejáveis são apenas atualizados para o contexto social no qual se vive. Se na idade da pedra uma caverna era um luxo, na contemporaneidade, um apartamento na praia o é. De modo que sempre existiram aqueles que privados de tais bens culturais foram, não apenas excluídos, mas julgados por sua não adequação ao sistema.
Veja como Izabel, a futura mãe de João Batista se sentiu: “Agora que o Senhor me ajudou, ninguém mais vai me desprezar por eu não ter filhos” (Lc 1.25). Ninguém vai me desprezar por eu não ter.... No caso dela, ela se sentia excluída por não ter filhos. No caso de outra pessoa pode ser um emprego, uma casa, um diploma, milhares de likes na página...
Certo é que a igualdade apresenta-se como um ideal a ser perseguido e um pesadelo se alcançado. Sempre damos um jeito de nos diferenciar, inclusive dentro das igrejas. Os pastores/homens/líderes/loiro/etc têm acesso a sentarem nesse lugar. Você simplesmente acomode-se como puder. Isso não lembra o texto de Tiago? “Vamos supor que entre no lugar onde vocês se reúnem um homem com anéis e com roupas finas e outro pobre e vestindo roupas velhas e sujas e vocês derem atenção especial ao homem rico […] nesse caso vocês estão discriminando pessoas, baseando-se em motivos errados ao julgar aos outros. (Tg 2. 2-4)
Isso significa que devemos ignorar as diferenças? Claro que não. Porque Paulo também nos alerta para elas, que cada um tem um lugar específico no Corpo: “Que coisa esquisita seria um corpo que tivesse somente um único membro! Assim foi que Ele fez muitos membros em um só corpo” (I Co 12.19-20)
Desse modo não parece que o problema esteja nas particularidades de cada um, pois são elas que nos fazem únicos, singulares, mas no contrário, quando não as valorizando, as utilizamos para estabelecer um sistema de classificação fundamentalmente excludente, estratificado e competitivo – quando os próprios critérios utilizados não são sequer questionados!
Pela dor de Izabel, do homem pobre e do dedo mindinho não deveria ser a Igreja de Cristo um lugar onde todos são igualmente reconhecidos como Filhos de Deus? Não deveríamos ser nós a demonstrar um outro modo de ser sociedade? A ideia não era que nós enquanto reino de Deus mostrássemos ao reino das trevas formas de incluir sem homogenizar?
Apenas um pouco de questionamentos...